O profeta Elias
Os
seis últimos capítulos de 1 Reis ocupam-se do ministério do profeta Elias no
reino do norte, o reino das dez tribos. Este
espetacular homem de Deus chama nossa atenção para um bom propósito. Ele é uma
das figuras mais notáveis em toda a história de Israel. Sua proeminência
é vista na
reforma religiosa que executou e no fato de que o Novo Testamento fala mais
dele do que de qualquer outro profeta do Antigo Testamento. Além disso, ele foi
o escolhido para aparecer com Moisés na transfiguração do Senhor. Ademais, é a
partir deste ponto que o ministério dos profetas nos dois reinos judaicos se
torna mais enfático. Um dos personagens mais surpreendentes e fantásticos de
Israel, Elias aparece repentinamente em cena como um profeta da crise, com
trovões na voz e tempestades no olhar. Ele desaparece também de modo súbito,
levado para o céu num carro de fogo. Entre a primeira e a última aparição,
estende-se uma sequência de milagres espantosos. Chamaremos atenção aqui para
três coisas: seu caráter, seu ministério e seu significado.
Seu caráter
A
grandeza do caráter de Elias é reconhecida por todos. Mesmo os críticos que
puseram em dúvida seus milagres concordam com ela. Ele parece ter sido notável
até mesmo fisicamente. Não era homem da cidade, mas do
campo. De fato, parece ter sido um verdadeiro beduíno, apreciando os esconderijos dos
montes e vales, percorrendo as vastas Pastagens desabitadas de Basã. Sua
aparência austera e sóbria sem dúvida teria atraído imediatamente a atenção do
homem da cidade, vestido de forma mais agradável. Ao lermos sobre o confronto
entre Elias e Acabe, quando o profeta anunciou a aproximação de um período de
seca, devemos imaginar um xeque barbudo, de cabelos longos e pele queimada pelo
sol, ou um daroês magro, de olhos penetrantes, vestido com peles de ovelha,
entrando ousadamente na presença do rei e levantando um braço rijo para o céu
ao acusá-lo de pusilânime em tons que soavam como os ecos temíveis das
montanhas.
Mas
Elias surpreende também no que diz respeito à sua formação moral. Três
qualidades destacam-se em especial: coragem, fé e zelo. Vaja a coragem. Este é
o Martinho Lutero do Antigo Israel, que sozinho desafiou todos os sacerdotes da
religião do Estado e todos os cidadãos do reino para um teste decisivo no Monte
Carmelo.
Veja
também sua fé. Ela reforça a coragem. Era necessário ter muita fé para
apresentar-se a Acabe e dizer: “... nem orvalho nem chuva haverá nestes anos
segundo a minha palavra” (1 Rs 17.1)! A natureza, por si só, pode fazer o
orvalho e a chuva faltarem por dias ou semanas e, em casos bem raros, até por
alguns meses; mas para que o orvalho e a chuva sejam retidos durante anos é
necessário que haja uma intervenção sobrenatural.
Observe agora o zelo de Elias. Ele verdadeiramente expressou sua principal paixão, ao afirmar: “Tenho
sido zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos” (1 Rs
19.10). Quanto este filho do deserto,
queimado pelo sol e inculto, pode
nos ensinar sobre o zelo pela honra divina, sobre a indignação ardente diante
da transigência religiosa e sobre a lealdade veemente à palavra de Deus!
Seu ministério
O Dr. Kitto comenta: "Havia dois tipos de profeta: os de ação e os de palavras. Dentre estes últimos, o maior é, sem dúvida, Isaías.
Entre os primeiros, jamais houve alguém maior do que Elias". Este é,
portanto, o primeiro faio sobre o ministério de Elias: ele era um profeta de ação. Segundo nos consta, ele não escreveu nada, mas isto não nos surpreeende.
Uma impetuosidade e um dinamismo como os de Elias dificilmente se unem à
paciência de um escritor. Muitos dos mais entusiastas e enérgicos reformadores
não tinham absolutamente qualquer dom como escritores, tram homens de ação e não de discurso. Sempre há necessidade de homens assim.
O ministério de Elias
também foi de milagres. A todo momento encontramos milagres. Em vista disso,
alguns recentes “eruditos” descartatram sumariamente esta seção das Escrituras
como sendo mítica. Todavia, a narrativa é tão sóbria e detalhada que, se não
fossem palos milagres, o crítico mais destrutivo jamais questionaria sua
veracidade.
O ministério de Elias
incluiu igualmente reforma. Ele não deu origem a nada. Contudo, protestou
contra a
apostasia religiosa e a degradação resultante de seu povo, chamando os homens
de volta aos bons e antigo* caminhos que o Deus de Israel havia lhes designado
através de Moisés. Hoje, há necessidade de denúncias assim diretas.
Seu significado
Em primeiro lugar, Elias
demonstra a verdade de que Deus tem sempre um homem que se
apresenta na hora exata. As
coisas já estavam suficientemente negras quando Acabe começou a reinar, mas ele
logo as tornou cem vezes piores. Está escrito: "Ninguém houve, pois, como
Acabe, que se vendeu para fazer o que era mau perante o Senhor, porque Jezabel,
sua mulher, o instigava" (1 Rs 21.25). Sob a liderança real foi feito um
esforço determinado para eliminar a religião do Senhor. Este foi o período mais
medonho de toda a história de Israel. Todavia, justamente na hora crítica surge
o herói de Deus. A mesma coisa repete-se continuamente na história, Quando a
luz da verdade evangélica parece estar a ponto de extinguir-se da cristandade,
e o papado
sufoca milhares de europeus sob seu manto perverso, Deus tem seus Luteros e
Calvinos para chamar o continente de volta àquela fé entregue de uma vez por
todas aos santos. Quando a política, a religião e a moral se tornam tão
degenerativas na Inglaterra que a própria essência da nação é prejudicada, Deus
tem os seus John Wycliffes, William Tyndales, Whitefields e Wesleys.
Outro
aspecto que Elias ilustra é que, quando a perversidade atinge proporções extraordinárias, Deus a confronta com medidas extraordinárias Os deuses fenícios que Jezabel e Acabe ensinaram
Israel a adorar representavam essencialmente os elementos materiais que
produzem o orvalho e
a chuva — Baal, Astarote
e Aserá. Assim sendo, o Deus verdadeiro mostra sua superioridade sobre
todos os poderes da
natureza, suspendendo a chuva e o orvalho por três anos e seis meses. Em oposição
aos milagres fictícios da falsa religião, o Senhor intervém com milagres reais. Eis a razão pela qual o
ministério de Elias é de milagres. Deus está enfrentando uma situação
extraordinária com medidas extraordinária*. Acredito que também hoje, quando
uma situação extraordinária começa a desenvolver-se, podemos esperar que Deus
enfrente mais uma vez o desafio com medidas extraordinárias.
Extraído do livro "Examinai as Escrituras", vol. 2, de J. Sidlow Baxter, editora Vida Nova, páginas 117-119.